Este Blog destina-se à divulgação de trabalhos, notícias e outros textos relativos à toponímia das artérias de diversas localidades, nomeadamente de Loulé e da restante região do Algarve. Pretende-se assim, através da toponímia, percorrer a memória das ruas, largos, avenidas, ingressando na história e património das urbes.


quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Lagos homenageou quatro personalidades na toponímia da cidade

O Município de Lagos homenageou quatro cidadãos, perpetuando os seus nomes na toponímia da cidade. O descerramento das placas decorreu no passado dia 1 de novembro, numa cerimónia realizada no âmbito das comemorações do dia do Município, passando as artérias a denominar-se: Rua Emmanuel da Costa Correia (Historiador); Rua João Braz (Poeta); Rua António Diogo Bravo (Industrial) e Rua António Aleixo (Poeta).
 
A sessão solene que antecedeu a cerimónia de descerramento de placas toponímicas decorreu no auditório dos Paços do Concelho Séc. XXI, na presença de vários convidados, na sua maioria amigos e familiares dos homenageados.
 
Na ocasião, a presidente da Câmara Municipal de Lagos, Maria Joaquina Matos, não quis deixar de referir que a Câmara Municipal de Lagos “sempre valorizou muito a área da toponímia”, frisando que “todos os nomes consagrados nas placas do nosso município contribuíram para uma sociedade melhor”. A autarca mostrou-se muito honrada “em termos a possibilidade de prestar esta homenagem a estes quatro tão importantes vultos, que são exemplos de vida para o nosso presente e para o nosso futuro. Desejamos que a sua memória perdure para a posteridade”, concluiu.
 
Também a vereadora com os pelouros da Cultura e da Toponímia, Maria Fernanda Afonso, deixou umas breves palavras nesta cerimónia, lembrando que “a História é feita pelos povos e, no limite, pelo conjunto de histórias singulares dos indivíduos em sociedade”. Para a vereadora, e assumindo-se a toponímia como uma referência dos valores históricos, culturais de cada lugar e memória coletiva de factos, personalidades, tradições “faz todo o sentido registar sistematicamente as personalidades, os casos mais marcantes, começando por descobri-las nas designações das ruas, dando vida a quem fez história e reforçando e reconstruindo memórias e identidades locais”.
 
Ouvidas as intervenções do executivo municipal, foram convidados os representantes das famílias a proferir algumas palavras. Todos os familiares quiseram deixar palavras de agradecimento à autarquia pela homenagem prestada a estas personalidades, e pelo facto de ter sido “reconhecido o mérito que tiveram no percurso das suas vidas, nas diferentes áreas”. Da família do poeta João Braz falou Vera Machado (neta) e Rosa Andrade (sobrinha), que recitou alguns poemas do seu tio. Em representação dos familiares de António Diogo Bravo falou o seu neto, António Ricardo Bravo Mexia Chaves Costa.
 

Descerramento da placa toponímica da Rua João Braz

O último convite para usar da palavra foi feito a Vítor Aleixo, presidente da Câmara Municipal de Loulé e neto do poeta António Aleixo, que à semelhança dos anteriores familiares voltou a agradecer o facto do Município de Lagos “manter viva a memória do meu avô, um homem muito humilde e bastante incompreendido no seu tempo, mas que curiosamente deixou uma obra poética bastante atual”, convidando todos a conhecer um pouco mais deste poeta popular algarvio.
 
A cerimónia terminou na zona da Atalaia, com o descerramento das respetivas placas toponímicas. 

Os novos topónimos resultaram de uma proposta de atribuição de denominações toponímicas para a Freguesia de Santa Maria (zona da Atalaia), que a Comissão Municipal de Toponímia deliberou, por unanimidade, na reunião de 29 de maio de 2008, apresentar à Câmara Municipal de Lagos, tendo a mesma merecido a aprovação unânime do órgão executivo em reunião realizada a 18 de junho de 2008. Estava em causa não apenas a identificação novos arruamentos numa zona de expansão urbana da cidade, como a oportunidade de, uma vez mais, se prestar homenagem através da toponímia a personalidades que a seu tempo se destacaram nos mais variados domínio, recordando a sua vida e obra, e fazendo perdurar, nas gerações atuais e futuras, pedaços de uma memória coletiva que dá conteúdo à identidade de um povo e dos lugares.
 
Rua António Aleixo
 
Emmanuel da Costa Correia
Nasceu em Odeceixe, concelho de Aljezur, em 1936, tendo falecido em 2003 com 67 anos de idade. Licenciou-se em belas artes pela E.S.B.A.L., secção de ciências pedagógicas, e em história pela Faculdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa, tendo ainda obtido o grau de mestre em história da arte pela Universidade Nova de Lisboa.
 
Foi professor do ensino primário, mais tarde professor do ensino secundário e exerceu ainda funções docentes na Faculdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa.
 
Desde muito novo despertou interesse por diversas manifestações culturais, destacando-se  como artista plástico (que se expressa na tela e na escultura), como historiador e investigador.
 
Participou com entusiasmo e eloquência em colóquios, conferências e congressos sobre história, arte e cultura portuguesa e deu prelo alguns opúsculos dedicados a monumentos de Lisboa..
 
Ao longo do seu percurso pessoal sempre demonstrou um grande amor pela terra onde nasceu e pela sua província natal. Este empenho manifestou-se na colaboração com iniciativas da Câmara Municipal de Aljezur e na dinamização da revista Espaço Cultural, de que foi diretor, dirigida especialmente para a história, património natural e cultural de Aljezur. Tornou-se colaborador de alguns jornais regionais como o Concelho de Aljezur, O Algarve e Folha de Domingo. Dedicou parte do seu tempo à recolha e estudo de documentos históricos e etnográficos significativos da arte e da cultura algarvia.
 
Foi membro dos corpos gerentes da Casa do Algarve em Lisboa e coordenador do Centro de Arte e Cultura Teixeira Gomes.
 
Recusou por várias vezes convites formulados para ocupar cargos políticos.
  
O Dr. Emmanuel Correia foi um extraordinário defensor da cultura nacional e um acérrimo divulgador da arte, do património e da história de Portugal.
 
 
João Braz
João Braz Machado nasceu em São Brás de Alportel, a 13 de março de 1912 e faleceu em Portimão, em 1993. Fez o curso da Escola Comercial e Industrial de Silves, cidade para onde os pais, daí naturais, regressaram, vindos de S. Brás de Alportel. Desde cedo, mostrando propensão para as letras, a sua vida profissional far-se-á, contudo, ligada à contabilidade. Paralelamente e até ao fim da vida desenvolveu grande atividade criativa. Foi diretor de A Rajada, de Silves, colaborou em muitos jornais e revistas do Algarve nomeadamente na revista Costa de Oiro, de Lagos, onde assinou com o pseudónimo de “Menestrel” e, no jornal Correio do Sul; fundou a Vibração, que contou com nomes que viriam a ter relevo no mundo das letras, entre eles o silvense Julião Quintinha.
 
O poeta João Braz colaborou em vários jornais da capital, nomeadamente em O Diabo. Na revista Espectáculo publicou contos e poesia. Concorreu a muitos jogos florais em Portugal e no Brasil, onde foi premiado. Em 1977 tornou-se membro da Associação Internacional de Poetas (Cambridge). Figura na “Colectânea de Poemas de Dez Poetas Algarvios”, de Joaquim Magalhães.
 
Escreveu teatro e recebeu o “Prémio Diário de Lisboa” pela peça em 1 ato Casar por Anúncio. Escreveu as revistas “Sendo Assim Está Certo…”, “Fitas Faladas”, “Feira de Agosto” e “Isto só Visto”, com a qual foi inaugurado o antigo Cine-Teatro de Portimão. Produziu três autos em verso: El-Rei Xexé, Serração da Velha e Máscaras. Toda a obra para teatro criada por João Brás foi representada, mas não editada.
 
Deixou-nos: Esta Riqueza que o Senhor Me Deu…, poemas, 1953 (2.ª edição revista e aumentada, 1978), A Mário Lyster Franco, aquele Abraço… Poema (mais 14 inéditos), 1978.
 
Em 1993 morreu “o Príncipe dos Poetas Algarvios”, como um dia foi aclamado, deixando a gaveta cheia de poemas inéditos.
 
 
António Diogo Bravo
Nasceu em Lagos, a 27 de julho de 1916 e faleceu em Lisboa, a 20 de julho de 1992. Oriundo de uma família modesta, atingiu, por mérito próprio, o mais alto estatuto na indústria farmacêutica nacional e europeia, cujo percurso merece ser reconhecido.
 
Com a instrução secundária incompleta, cumpriu o serviço militar em Setúbal. No início dos anos 40, de parceria com o dr. Miguel Cocco – filho de um industrial italiano com fábricas de conserva de peixe em Lagos – ligou-se à indústria farmacêutica, na produção de medicamentos, e, posteriormente, na importação e produção de matérias primas, atividades em que se projetou a nível nacional e internacional.
 
Dinâmico e empreendedor, foi presidente do conselho de administração das seguintes empresas: Instituto Luso-Fármaco de Lisboa, S.A.; Medicamenta, S.A.; Tecnifar, S.A.; Instituto Luso-Fármaco de Itália, que viria a ser dos mais importantes da Europa; Instituto Luso-Fármaco de Espanha; Lusochimica de Como; e Farpor S.A.R.L.
 
Paralelamente, desdobrava-se em múltiplas atividades através da sua participação em empresas, que vão das artes gráficas, passando pelas pescas, moagens e destilarias, e ainda na área financeira e de seguros, nestes dois últimos casos, através da Banca Cesare Ponti de Milão e Atlas, Lda..
 
Foram muitas as insígnias recebidas por este ilustre lacobrigense, entre as quais se destacam as seguintes ordens e distinções honoríficas: Grande Comenda da Ordem de Mérito Industrial; Cavaleiro da Grã Cruz da Ordem do Santo Sepulcro; Comenda da Ordem de Mérito da República Italiana; Cavaleiro da Grã Cruz da Sacrossanta Ecclesia Lateranensis; Accademico Associado Dell’Academia Tiberina de Roma; Comenda da Ordem do Infante D. Henrique; Cavaliere di Gran Croce del Mérito Della República Italiana.
 
António Diogo Bravo foi ainda vice-cônsul de Portugal em Milão e cônsul de Portugal em Florença. Fez centenas de discursos em que à inteligência da oratória ligava o dom da comunicação. Muitas destas peças encontram-se reunidas numa coletânea que faz parte do valiosíssimo espólio que deixou.
 
 
António Aleixo
António Fernandes Aleixo foi um dos poetas populares algarvios de maior relevo. Nasceu em Vila Real de Santo António a 18 de fevereiro de 1899 e faleceu em Loulé a 16 de novembro de 1949.
 
Do seu percurso de vida fazem parte profissões como tecelão, polícia, servente de pedreiro, trabalho que, emigrado, também exerceu em França. Volvido ao seu país natal, estabeleceu-se novamente em Loulé, onde passou a vender cautelas e a cantar as suas produções nas feiras, atividades essas que se juntaram ao seu rol de profissões.
 
Poeta detentor de uma rara espontaneidade, de um apurado sentido filosófico e notável pela «capacidade de expressão sintética de conceitos com conteúdo de pensamento moral», Aleixo vai sendo conhecido e bastante apreciado por inúmeras figuras, das quais se destacam Dr. José Pedro, Dr. Joaquim Magalhães, José Rosa Madeira, que o protegem, divulgam e colecionam os seus escritos.
 
Da coleção formada por José Rosa Madeira e outras composições recolhidas, nasceu o primeiro livro em 1943, editado pelo Círculo Cultural do Algarve. A opinião pública aceitou-o com bom agrado, sendo bem acolhido pela crítica. Com uma tiragem de 1100 exemplares, o livro esgotou-se em poucos dias, o que proporciona a Aleixo uma pequena melhoria de vida, que é ensombrada pela morte de uma sua filha, doente com tuberculose. Desta mesma doença viria o poeta a sofrer, tendo que ser internado no Hospital-Sanatório dos Covões, em Coimbra, em 1943. Aqui descobriu novas amizades e deleitou-se com novos admiradores, que reconheceram o seu talento. Os seus últimos anos de vida foram passados, ora no sanatório, em Coimbra, ora em Loulé.
 
Aleixo está hoje, entre nós, bem consagrado e presente. As suas obras foram apresentadas na rádio e televisão, os seus versos incluídos em diversas antologias, o seu nome figura na história da literatura, é patrono de instituições e grupos político-culturais, tem o nome em várias esquinas de ruas do país e existem medalhas cunhadas e monumentos erigidos em sua honra. Da sua autoria estão publicadas as seguintes obras: «Quando começo a cantar» - (1943); «Intencionais» - (1945); «Auto da vida e da morte» - (1948); «Auto do curandeiro» - (1950); «Este livro que vos deixo» - (1969); «Inéditos» - (1979); tendo sido, estes três últimos, publicados postumamente.
 
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