Este Blog destina-se à divulgação de trabalhos, notícias e outros textos relativos à toponímia das artérias de diversas localidades, nomeadamente de Loulé e da restante região do Algarve. Pretende-se assim, através da toponímia, percorrer a memória das ruas, largos, avenidas, ingressando na história e património das urbes.


sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Largo Padre Roger Henri Pille – Martim Longo

A 7 de Dezembro de 2001 faleceu um dos mais carismáticos párocos de Martim Longo, Roger Henri Pille, que deixou profundas recordações na população local. Paroquiou a localidade durante oito anos, desempenhando simultaneamente a mesma função em Vaqueiros e Cachopo. 
  
Um ano após o seu óbito, a Junta de Freguesia de Martim Longo e a Câmara Municipal de Alcoutim, conjuntamente com as paróquias de unidade pastoral do nordeste algarvio, prestaram-lhe homenagem, organizando diversas iniciativas. As cerimónias abrangeram a celebração de Eucaristia na igreja paroquial de Martim Longo, presidida pelo Bispo do Algarve, D. Manuel Madureira Dias; uma romagem ao cemitério; o descerramento de uma placa toponímica com o nome do Padre Roger Henri Pille, num dos largos da aldeia, junto à igreja, que procurou perpetuar a sua memória para as gerações vindouras; e uma sessão solene no salão do Centro Paroquial, onde discursaram os representantes de várias entidades.[1]



Roger Henri Pille
Natural da Bélgica, nasceu a 22 de Setembro de 1932, falecendo em Faro a 7 de Dezembro de 2001.

Foi ordenado sacerdote no dia 1 de Fevereiro de 1958, fazendo parte dos sacerdotes da Congregação dos Missionários de África, conhecidos por Padres Brancos.

Durante algumas décadas foi missionário em África, nomeadamente em Moçambique. Após este período, rumou ao Algarve, permanecendo algum tempo em Albufeira, sendo nomeado pároco de Martim Longo, Vaqueiros e Cachopo a 20 de Outubro de 1993. Durante o período que aqui permaneceu, até à sua morte, marcou indelevelmente a população, devido ao seu espírito aberto e feitio humano.

O funeral do padre Roger, realizado em Martim Longo, onde quis ficar sepultado, constituiu uma impressionante manifestação de fé, onde afluíram centenas de paroquianos, tendo sido presidido pelo Bispo do Algarve, D. Manuel Madureira Dias e pelo Bispo Auxiliar, D. Manuel Quintas, coincidindo com o dia da festa em honra da padroeira da aldeia, Nossa Senhora da Conceição.[2]


[1] Jornal “Folha de Domingo”, n.º 4479, de 13/12/2002.
[2] Jornal “Folha de Domingo”, n.º 4433, de 14/12/2001; Jornal “Folha de Domingo”, n.º 4435, de 11/01/2002.

Praceta de Albufeira recebe topónimo de Fausto Napier

As freguesias de Albufeira e Guia vão ver algumas das suas artérias, até aqui não identificadas, com novos topónimos.

A Rua do Rio Seco, Rua da Oficina, Rua João de Deus e Caminho do Poço do Amendoal são os novos nomes de arruamentos na Guia.

A freguesia de Albufeira vê nascer a Praceta Fausto Napier, na zona da Corcovada, junto à Rotunda do Globo. Este topónimo vem prestar homenagem ao primeiro fotógrafo de Albufeira, único durante décadas, que captou imagens de acontecimentos que marcaram uma época e várias gerações de albufeirenses.

Fausto Napier nasceu no Sardoal, distrito de Santarém, em 1915. Aos 18 anos veio para Albufeira, onde começou a trabalhar com uma máquina de rua no Largo Eng.º Duarte Pacheco. Mais tarde monta o seu próprio estúdio em casa, tendo-se dedicado à arte de bem fotografar em estúdio. As suas fotografias constituem um registo da história do concelho, sendo frequentemente utilizadas em diversas publicações. O fotógrafo veio a falecer aos 69 anos, na cidade de Albufeira.

Fonte:
http://www.cm-albufeira.pt/portal_autarquico/albufeira/v_pt-PT/pagina_inicial/noticias/NI262-2011.htm, consultado em 10/10/2011.

Rua Manuel dos Santos Pinheiro – Loulé

A autarquia de Loulé procedeu recentemente (em Setembro transacto) à instalação de uma placa toponímica em homenagem a Manuel dos Santos Pinheiro Júnior, ilustre farmacêutico, que, apesar de natural de Faro, residiu em Loulé durante cerca de sete décadas. O topónimo foi aprovado em reunião da Câmara Municipal realizada no dia 24 de Novembro de 2010.

Manuel dos Santos Pinheiro Júnior
Personalidade notável da sociedade louletana da primeira metade do século XX, Manuel dos Santos Pinheiro Júnior nasceu em Faro a 4 de Novembro de 1874, formou-se em Farmácia, instalando-se posteriormente em Loulé, onde fundou a Farmácia Pinheiro (actualmente ainda existente) em 1895.[1]

A sua actividade profissional fez com que atingisse um inegável protagonismo na vila de Loulé e restante concelho, principalmente devido ao seu carácter recto e lhaneza de cariz. Homem dinâmico e empreendedor, participou em diversas iniciativas públicas, nomeadamente na organização das primeiras Batalhas de Flores (Carnaval), colaborou em vários grupos de teatro e musicais[2] e foi um dos nove membros fundadores da Sociedade Teatral Louletana, constituída em 1925 com o objectivo principal de edificar o Cineteatro Louletano, onde investiu uma cota de 20 contos.[3]

Ocupou igualmente funções públicas destacando-se o cargo de administrador do concelho (entre 10/03/1915 e 19/05/1915) e vereador com o pelouro da iluminação (entre 2/01/1905 e Dezembro de 1907 e entre 20/02/1908 e 30/11/1908). Em Fevereiro de 1906, quando ocupava o cargo de vereador e sob sua proposta, a iluminação a petróleo foi substituída por gás acetileno, com o objectivo de proporcionar uma luz de melhor qualidade. Pertenceu igualmente ao executivo municipal, liderado por José da Costa Mealha, que procedeu à inauguração do Mercado Municipal, a 27 de Junho de 1908.[4]

Após a implantação da República tornou-se líder local do Partido Evolucionista[5], fundado em 1912 por secessão do Partido Republicano Português.

O decano dos farmacêuticos e dos comerciantes louletanos faleceu nesta vila a 3 de Setembro de 1961 e o seu funeral constituiu uma profunda manifestação de pesar, nele se incorporando centenas de pessoas de todas as classes sociais.[6]


[1] Jornal “A Voz de Loulé”, n.º 236, de 17/09/1961.
[2] Jornal “O Algarve”, n.º 2789, de 10/09/1961.
[4] Martins, Isilda, Loulé no Século XX, vol. I, Loulé, Edições Colibri e Câmara Municipal de Loulé, 2001.
[5] Informação cedida pelo Eng. Luís Guerreiro.
[6] Jornal “O Algarve”, n.º 2789, de 10/09/1961.


quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Figuras da República na toponímia de Lisboa

Dia 5 de Outubro, nos Paços do Concelho, a Câmara Municipal de Lisboa prestou homenagem a sete ilustres republicanos que no decurso da sua vida se dedicaram a esta causa, cerimónia a que se seguiu o descerrar das respectivas placas toponímicas em vários locais da cidade.

O presidente da CML, António Costa, a presidente da Assembleia Municipal, Simonetta Luz Afonso, os vereadores Catarina Vaz Pinto, Manuel Salgado e Manuel Brito, e Fernanda Rollo, Comissária das Comemorações do Centenário da República, juntaram-se aos familiares e amigos dos homenageados no Salão Nobre dos Paços do Concelho de Lisboa e nas cerimónias de descerramento das respectivas placas toponímicas.

Na sua intervenção, Catarina Vaz Pinto, vereadora da Cultura e presidente da Comissão de Toponímia, agradeceu à Prof. Doutora Fernanda Rollo o seu contributo, acrescentando que “a atribuição destes topónimos “mantém viva na cidade de Lisboa a memória destes ilustres republicanos”.

Em jeito de balanço, António Costa disse que estas cerimónias do 5 de Outubro “encerram um ciclo de três anos de comemorações, iniciadas em 2008 com o centenário da primeira vereação republicana", recordando que desde então, foi a partir do município de Lisboa que se foi desenvolvendo e disseminando a ideia da república. É esse papel e simbolismo que as iniciativas das comemorações do centenário da república organizadas pela CML procuram recuperar. Para o autarca, a inclusão dos nomes dos homenageados na toponímia da cidade tem uma função importante “para sabermos quem são”. "Temos o dever de preservar a sua memória”, acrescentou o presidente da autarquia. 

O jardim situado na confluência da Rua Viriato, Rua Latino Coelho e Avenida Cinco de Outubro recebeu o topónimo “Jardim Augusto Monjardino” (1871–1941), médico e fundador da Maternidade Alfredo da Costa enquanto Jaime Batalha Reis (1847–1935), escritor e jornalista, deu o seu nome à Rua 2 à estrada do Calhariz de Benfica.


No Alto dos Moinhos ficaram Francisco Ferrer (1859–1909), pedagogo e político; João Chagas (1863 – 1925), jornalista e político; Luz de Almeida (1867–1939), Político, e Mário de Azevedo Gomes (1885–1965), professor universitário e político. Por seu lado, a memória do republicano Machado Santos (1875-1821), fica perpetuada num arruamento à Rua Luís de Granada, em Benfica. 





Fonte:
http://www.cm-lisboa.pt/?idc=88&idi=58526, consultado em 06/10/2011.

João de Deus e António Aleixo - Patronos de escolas algarvias

O Liceu de Faro foi criado por Decreto da Rainha D. Maria II, em 3 de Janeiro de 1851. Esteve inicialmente instalado num edifício anexo ao actual seminário diocesano, no Largo da Sé. Em 1908 passou a ocupar o primeiro edifício expressamente construído para esse fim, onde posteriormente, e após algumas obras de remodelação, se instalaria a actual Escola Secundária Tomás Cabreira. Devido à exiguidade das suas instalações, iniciou-se em 1943 a construção do actual edifício, localizado no topo da Avenida 5 de Outubro. A obra foi entregue oficialmente ao Ministério da Educação Nacional a 28 de Abril de 1948, em cerimónia presidida pelo então Ministro da Educação Dr. Fernando Pires de Lima.[1]
O Liceu de Faro ostentou o nome do poeta e pedagogo algarvio João de Deus após a revolução de 5 de Outubro de 1910, mantendo esta denominação até 1947, altura em que passou para Liceu Nacional de Faro.


O Liceu de Portimão foi criado pelo Decreto-Lei n.º 21922, de 29 de Novembro de 1932, após muitas movimentações e grande pressão por parte das forças políticas e institucionais da cidade, ficando o mesmo designado por Liceu Municipal Infante de Sagres. A zona de influência pedagógica deste estabelecimento de ensino compreendia os concelhos da Aljezur, Lagoa, Lagos, Monchique, Portimão, Silves e Vila do Bispo.
Em 1947, à semelhança do Liceu de Faro, esta instituição deixou de ter patrono, ficando designada por Liceu Municipal de Portimão. Em 1956 foi elevado a Liceu Nacional.[2]

Após 25 de Abril de 1974, na sequência da política desenvolvida pelo novo regime democrático, estes estabelecimentos passaram de novo a deter patronos, sendo respectivamente, os poetas João de Deus e António Aleixo, tal como relatado no jornal “O Algarve”, de 2 de Junho de 1976:

“Pelo decreto 417/76 de 27 de Maio último os Liceus Nacionais de Faro e Portimão passaram a ser designados, respectivamente, por Liceu Nacional de João de Deus e Liceu Nacional do Poeta António Aleixo.
Deste modo, quanto ao de João de Deus, é dada satisfação a todos quantos solicitaram desde 1947 a reparação da injustiça que foi o ter-se eliminado o nome do patrono que a 1.ª República lhe tinha concedido. Quanto ao do Poeta António Aleixo é a consagração do poeta popular que influiu a função da escola resumida nesta quadra:

E assim lição por lição
e que aos poucos aprendemos
de outros a outros daremos
que outros a outros darão.” [3]

Entretanto, dois anos depois, pelo Decreto-Lei n.º 80/78, de 27 de Abril, no seguimento das modificações introduzidas no ensino secundário, estes os estabelecimentos passaram a ter a designação genérica de Escolas Secundárias, mantendo os respectivos patronos.


[1] http://www.esjd.net/escola, consultado em 21/09/2011.
[3] Jornal “O Algarve”, n.º 3550, de 2 de Junho de 1976.