Este Blog destina-se à divulgação de trabalhos, notícias e outros textos relativos à toponímia das artérias de diversas localidades, nomeadamente de Loulé e da restante região do Algarve. Pretende-se assim, através da toponímia, percorrer a memória das ruas, largos, avenidas, ingressando na história e património das urbes.


segunda-feira, 25 de abril de 2011

Comemorar Abril

Para recordar o 37.º aniversário da revolução dos cravos, que se assinala hoje, divulgo dois textos retirados da imprensa, relativos à toponímia anterior e posterior a 1974. O primeiro foi publicado no jornal “Público”, a 24/04/2009 e descreve as artérias do país onde o nome de Salazar ainda sobrevive, tendo incluído uma foto da placa toponímia da antiga “Praça Dr. Oliveira Salazar” em Loulé. O segundo artigo foi extraído do “Jornal do Algarve”, de 10/02/1978 e relata algumas alterações toponímicas ocorridas na cidade de Tavira na sequência do golpe militar de 25 de Abril.


Salazar "sobrevive" na toponímia nacional em 20 localidades portuguesas

O nome do antigo presidente do Conselho de Ministros do Estado Novo, Oliveira Salazar, sobrevive pelo País na toponímia de cerca de 20 localidades, maioritariamente no Norte e Centro, mas fora das capitais de distrito.

O distrito de Viseu, de onde o antigo ditador era natural, recolhe a maioria das designações, em três avenidas de Santa Comba Dão - concelho onde nasceu, na localidade de Vimieiro - Armamar e Carregal do Sal. Em Viseu assinala-se ainda uma rua Dr. Oliveira Salazar, na aldeia de Castaínço, Penedono.

No interior do país subsiste, igualmente, nos lugares de Cafede (Castelo Branco) ou Cadafaz (Góis), mantendo-se aqui junto à rua Combatentes do Ultramar.

Se a seguir à revolução de 1974 o nome de Salazar foi "banido" de inúmeros espaços e equipamentos nacionais - da actual Ponte 25 de Abril, a avenidas de Leiria e da Figueira da Foz, ou de uma praça em Coruche, hoje da Liberdade, ao Largo São Francisco, em Loulé, entre diversos outros exemplos - há pelo menos uma aldeia, em Santarém, onde subsiste, lado a lado com um dos militares de Abril.

Em Atalaia, a 20 quilómetros a noroeste da capital de distrito, a rua Oliveira Salazar entronca com a Capitão Salgueiro Maia, o comandante da coluna militar que ocupou o Terreiro do Paço e levou à rendição de Marcelo Caetano no quartel do Carmo.

Das poucas referências ao antigo ditador existentes no Sul do país, há uma que se destaca, por se situar em pleno Alentejo: em Santa Clara-a-Velha, concelho de Odemira, Oliveira Salazar é nome de praça, de onde parte a rua Marechal Carmona, outra das figuras do Estado Novo.

A referência toponímica ao antigo ditador subsiste, também, no litoral: em Monte Real, Leiria, junto às termas e a caminho da base aérea, a rua Dr. Oliveira Salazar é uma das artérias principais da povoação.

Em Olival, Vila Nova de Gaia, existe a única "alameda" com o nome de Oliveira Salazar, em local de pouca passagem e relativamente desconhecido; já Santo Tirso (Porto) e Murtosa (Aveiro) possuem as únicas ruas "do" antigo presidente do Conselho de Ministros.

O roteiro continua em Ansião ou Santa Cita (Tomar), uma das mais extensas e onde Salazar tem a "companhia" adjacente da rua da Legião Portuguesa, organização paramilitar criada, em 1936, com o Estado Novo e extinta em 1974.

Há, no entanto, pelo menos uma referência a Salazar na toponímia nacional que nada tem a ver com o antigo ditador: em plena serra do Caramulo, na pequena aldeia de Caselho de São João, a meio caminho entre Águeda e Tondela, a placa num casebre de pedra homenageia, isso sim, um antigo morador, iniciativa da população local.

Fonte: www.publico.pt, por Lusa


Espaço de Tavira – Toponímia Citadina

Em recente reunião camarária [21/09/1977], a comissão que da edilidade recebeu o encargo de actualizar a toponímia tavirense, apresentou algumas sugestões que mereceram aprovação do conselho municipal. Assim, a rua que era do eng. Leite Pinto volta à antiga designação de Rua da Galeria; a do poeta Correia de Oliveira volta a chamar-se Rua da Porta Nova e a que era de S. Gonçalo de Lagos volta a ser a Travessa das Cunhas. A rua que serve o Palácio da Justiça ficará sendo Rua do Dr. Silvestre Falcão; às traseiras do mesmo imóvel chamar-se-á Praceta Teixeira Gomes; a rua Pinto Barbosa passa a Rua do Dr. Augusto Carlos Palma; a do eng. Arantes Oliveira passa a Rua 25 de Abril e a zona que lhe fica paralela, designar-se-á de Praceta Eduardo Fonseca Guerreiro. Por sua vez, a sequência da Rua da Porta Nova, passa a chamar-se Rua de Álvaro de Campos (heterónimo de Frenando Pessoa), que este consagrado poeta «fez nascer» em Tavira.

De acordo com os novos tempos que se vivem, eliminam-se assim do quadro toponímico local, entre outros, os nomes de alguns políticos de nomeada no decurso do anterior regime, dando-se primazia a tavirenses, algarvios e outras figuras dignas dessa distinção.

Achámos curiosa, e com ela nos congratulamos, a lembrança da comissão ao dar «vida», em Tavira, a uma figura literária, de alta projecção nacional, que o seu criador, Fernando Pessoa, quis «nascida» nesta cidade. E por nos lembrarmos que outra figura literária, não de âmbito nacional, não inventada mas genuinamente de Tavira e do Algarve, nesta cidade fez e deixou obra imorredoira, votos sinceros fazemos por que o nome de Sebastião Baptista Leiria venha a ser considerado, a quando de novas sessões de trabalho da comissão local de toponímia.

J. S. Dias

Fonte: Jornal do Algarve”, n.º 1090, de 10/02/1978.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Rua Manuel Viegas Guerreiro – Querença

O Prof. Doutor Manuel Viegas Guerreiro, natural da freguesia de Querença (concelho de Loulé), onde nasceu a 1 de Novembro de 1912, foi homenageado na sua terra natal em 1979, através da atribuição do seu nome a uma artéria da aldeia.

Em reunião da Assembleia de Freguesia de Querença, ocorrida a 7 de Abril de 1979, foi aprovado por unanimidade que se promovesse uma homenagem ao Prof. Manuel Viegas Guerreiro, “que muito se tem distinguido no domínio das letras”. A cerimónia de tributo ocorreu no dia 4 de Agosto, tendo o homenageado descerrado a placa toponímica.

O jornal “A Voz de Loulé” noticiou o acontecimento: “O passado dia 4 de Agosto, foi cenário temporal da Festa do Povo de Querença. Motivo fundamental: a homenagem a um dos filhos ilustres de Querença: o Dr. Manuel Viegas Guerreiro. Enformando esta homenagem, foi elaborado todo um calendário de festividades que, representaram um cariz genuinamente popular […]. Importante, a inauguração do Parque Desportivo […]. Seguiu-se uma sardinhada ao ar livre, […] com as presenças do Presidente da Câmara de Loulé, Andrade de Sousa, do Governador Civil, Almeida Carrapato, e de outras personalidades […]. Ficámos verdadeiramente maravilhados com a «Exposição de Motivos Locais, de Usos e Costumes, Históricos e Artesanais» […]. Da homenagem ao Dr. Manuel Viegas Guerreiro, constou o descerramento de uma placa com o seu nome numa rua da freguesia, e uma exaltação do homenageado, proferida pelo Prof. Joaquim Magalhães. Finalmente, houve diversas manifestações culturais, que incluíram Danças, Cantares, Quadras, etc.”

A artéria que ficou denominada com o nome do professor era popularmente designada por Rua do Pé da Cruz, dando acesso à ermida homónima e foi durante duas décadas a única da aldeia de Querença que ostentou designação oficial. No ano de 1999 foram denominadas as demais ruas da localidade.

Manuel Viegas Guerreiro encontra-se igualmente rememorado em Oeiras e Lisboa, constando como patrono em ruas daquelas localidades.

Manuel Viegas Guerreiro
Natural de Querença, formou-se em 1936 em Filologia Clássica, na Faculdade de Letras de Lisboa. Começou por exercer a profissão de professor de liceu em 1939, tendo leccionado em Lamego, Lisboa, Faro, Sá da Bandeira (Angola) e Oeiras. Entretanto, foi igualmente bolseiro nomeado para auxiliar o Doutor Leite de Vasconcelos, na sua actividade literária.

De 1955 a 1970 obteve uma bolsa de investigação, a fim de ordenar e publicar os manuscritos de Leite de Vasconcelos, sobretudo da Etnografia Portuguesa. Doutorou-se em Etnologia na Universidade de Lisboa (1969) e em seguida ocupou o lugar de professor de Etnologia, ascendendo a professor catedrático, na Faculdade de Letras da mesma instituição de ensino. Foi também investigador do Centro de Estudos Geográficos a funcionar naquela Faculdade. Aposentado em Setembro de 1982, faleceu em Carnaxide em 1 de Maio de 1997.

Durante a sua vida de universitário foi encarregado de várias missões no país e no estrangeiro. A vasta actividade do Prof. Viegas Guerreiro incluiu inúmeras iniciativas, como, por exemplo, a criação dos Estudos Gerais Livres e do Centro de Tradições Populares Portuguesas, a organização de colóquios e a publicação de inúmeros trabalhos de investigação, principalmente nas áreas de etnografia e antropologia e da literatura popular.

As qualidades de homem e académico tornaram Viegas Guerreiro uma personalidade singular que muito marcou as pessoas que com ele conviveram.

domingo, 3 de abril de 2011

Toponímia de Carcavelos Homenageia António Feio

A freguesia de Carcavelos conta, desde o dia 22 de Janeiro de 2010, com a Rua António Feio, numa homenagem da Junta de Freguesia de Carcavelos ao actor recentemente desaparecido.

O descerramento da placa toponímica ocorreu no Bairro do Junqueiro (início e fim na Rua de Luanda), onde António Feio viveu e passou toda a sua juventude, e contou com a presença de familiares e amigos do actor.

Fonte:
www.cm-cascais.pt

Raul Pinto na Toponímia de Loulé

Figura marcante do século XX em Loulé, Raul Rafael Pinto (1904 -1983), um verdadeiro seguidor das políticas do Estado Novo, foi uma personalidade extremamente influente e de vastos conhecimentos, granjeando prestígio a nível local, regional e até nacional. Consta que foi o responsável pela vinda a Loulé do presidente do Conselho Oliveira Salazar, por ocasião da inauguração do Monumento a Duarte Pacheco (1953).

Exerceu os cargos de secretário da Administração do Concelho (1927) e de chefe da Secretaria da Câmara Municipal de Loulé (1928 – 1955), dirigindo dessa forma os serviços municipais. Foi membro da Legião Portuguesa e da União Nacional.

Após o golpe militar de 25 de Abril de 1974, durante a transição para o regime democrático, Raul Pinto foi discriminado e frequentemente apupado, devido às suas fortes convicções ligadas ao regime anterior e pelo poder que havia exercido durante esse período, enquanto líder dos destinos do concelho, sendo acusado de promover perseguições.

Sete anos após o seu falecimento, em Novembro de 1990, o jornal “A Voz de Loulé” lançou o alvitre para que se associasse o seu nome a uma rua da cidade, “pela sua grande dedicação aos problemas da terra natal e pelo muito que trabalhou para a valorizar e fazer progredir”.

Assim, devido à marca que imprimiu e ao papel relevante na liderança das funções que exerceu no concelho de Loulé, o Município louletano decidiu homenageá-lo, através da outorga do seu nome a uma via, aprovada em reunião de 12 de Março de 1991. Passados cerca de 3 anos, aquando da aposição das placas toponímicas, foi colocado o nome de outra personalidade (Gonçalo de Loulé) em seu lugar, tendo este louletano sido banido da toponímia. Desconheço as razões porque tal facto ocorreu, mas provavelmente devido a quezílias relacionadas com as convicções políticas despoletadas pelo nome do emblemático Raul Pinto.

No ano 2008 nova tentativa para inscrever o seu nome numa rua e nova polémica surgida. A 20 de Fevereiro de 2008 a Câmara Municipal de Loulé aprovou novamente a denominação de uma artéria com o nome deste louletano, localizada na Urbanização das Romeirinhas. Contudo, os ecos de protesto de alguns elementos da sociedade civil, que haviam convivido de perto com Raul Pinto, fizeram-se ouvir de imediato, tendo a edilidade resolvido, a 27 de Janeiro de 2010, substituir a denominação pela de outra notável louletana (Ermelinda Aboim).

De facto, se em vida Raul Pinto gerou “amores e ódios”, isto é, usufruía de muitos amigos mas também de inúmeros inimigos, próprio da época e da conjuntura em que a sociedade vivia, depois de falecido o seu nome continua a ser alvo de inflamada polémica e discussão, não sendo consensual que se preste homenagem a tão destacado louletano, principalmente através da toponímia local.